quinta-feira, junho 09, 2016

Sócrates de Roberto Rosselini (1971)


Sócrates é um filme produzido pela RAI, filmado na Espanha, falado em italiano e dirigido por Roberto Rosselini. O filme inicia com Atenas tomada pelo governo dos 30 de Lisandro. Os aristocratas gregos discutem os erros de Alcebíades em sua campanha na Sicília enquanto bebem e comem fartamente com os escravos servindo-os. A discussão, de fato, trata do antigo antagonismo entre Esparta, agora dominante, e Atenas, a terra dos pensadores.

Na cidade, os espartanos começam a distribuir comida para o povo e é aí que aparece a figura de Sócrates sendo escorraçado por um estrangeiro. Seus amigos vão auxiliá-lo e perguntam por que ele não leva o desaforado para o tribunal. Sócrates responde: “Não posso me chatear por levar um coice de um burro. Além do mais, é difícil levar um burro para o tribunal”.

O Sócrates de Rosselini é sarcástico, ácido e possui uma língua rápida. Isso atrai os jovens atenienses que abandonam seus pais para seguir o velho filósofo. Os atenienses começam a desconfiar de suas doutrinas e o que elas causam nos jovens que passam a agir de um modo diferente da tradição. Quando os atenienses conseguem retomar o poder, surgem questionamentos sobre a influência de Sócrates na cidade, o que descambará no famoso julgamento de Sócrates e na sentença máxima: morrer envenenado bebendo cicuta.

Porém, antes do julgamento, Rosselini nos brinda com cenas cotidianas do pensador. Uma das melhores é quando Sócrates retorna para sua casa e se encontra com sua esposa, Xantipa. Ela é famosa por ser feia, rabugenta, mandona e desequilibrada. Quando Sócrates entra na sala, ela começa a reclamar que há dois dias ele não aparece e não pensa nos filhos que estão passando fome. Ela fica indignada com Sócrates por este não agir como os Sofistas que vendiam seus conhecimentos para os filhos dos senhores ricos de Atenas. Sócrates diz que o seu conhecimento não se vende.

Num de seus diálogos, Sócrates discute a questão da felicidade e afirma que ser feliz é ser justo. Ser rico e poderoso não é indicação de felicidade para Sócrates (Nietzsche dizia que Platão, e, portanto Sócrates, foram para o Egito, mas não aprenderam com os egípcios, mas sim com os judeus que viviam lá). O conhecimento do bem, sim.

Rosselini recheia o filme com diversas citações retiradas dos Diálogos de Platão. Isso enriquece e dá uma dinâmica interessante ao filme. Uma dessas passagens é a célebre afirmação de Platão de que a escrita prejudicaria a memória dos homens que não procurariam mais o conhecimento dentro de si, mas no exterior.

Por fim, Rosselini junta dois Diálogos de Platão: Apologia de Sócrates e Fédon. No primeiro, temos a defesa de Sócrates diante do tribunal ateniense que o acusa de corromper a juventude e, no segundo, o momento em que Sócrates, antes de tomar a cicuta, explana sobre sua teoria da imortalidade da alma, bebendo a cicuta sem medo algum da morte.

O filme vale a pena tanto para aqueles que já leram Platão quanto para quem não conhece nada de Platão. O Sócrates de Rosselini é um bom começo.

http://arsdiluvianfilmes.blogspot.com.br/2010/08/socrates-de-roberto-rosselini.html