terça-feira, janeiro 27, 2015



A EPIFANIA DE SEPÉ


Em sendo chegado o tempo
de um novo evangelho
e velhas revelações
da renovação dos mundos
na evolução do Universo.

Sepé vem do Céu,
sem trombetas e sem pompa,
para restaurar a humanidade
e aniquilar a maldade,
para ensinar outra vez
os preceitos rituais,
as regras da convivência
e as normas de conduta,
- a justiça e as leis
das regiões siderais,
a arte de bem viver,
de se entender,
a fórmula da justiça,
da alegria, harmonia e da paz.

Sepé, no entanto
viu que o povo sofria,
já não mais sorria,
carente de conhecimento,
alegria nunca mais,
coitados! vivendo como animais.

Cheio de aporrinhação e
farto de ouvir uis e ais ...
Sepé meditou
sobre o seu nome, destino e missão:
boca silente, reticente,
que jamais disse jamais.


Sepé se enfurece
e rasga sem dó nem pena
a plumagem de metáforas
da linguagem angelical,
escangalha o figurino,
transgride os protocolos
e códigos celestinos,
espezinha os floreios
da retórica divina.


Torna-se o linguarudo,
desbocado,
boquejante,
boquirroto,
boquinegro,
bocudo.


Sepé filosofa:
- Esta vida é um buraco
do buraco todos vêm,
ao buraco todos vão.
E não escapa ninguém.


Buraco que come,
buraco que defeca,
buraco que vê,
buraco que ouve,
buraco que fala,
buraco que pensa,
buraco que anda,
buraco que sente,
buraco que ama,
buraco que sofre,
buraco que chora,
buraco que sonha...


Sepé desembucha,
escancara a bocarra,
solta a língua, mostra os dentes, rasga o verbo,
revela, desvela, escarra, esparra.


Clama e proclama
a sua epifania,
conta os segredos,
desvenda os mistérios ...


- desencanta o mal.


Boca interditada
por leis e editais,
boca lacrada
por lacres morais,
boca selada
por falar demais,
boca atarraxada
por conveniências,
já não serei mais.

Sendo mister acabar
com a farsa milenar,

derrotar a esfinge,
matar a charada,
decifrar o enigma,
quebrar o encanto,
vencer o dragão,
enganar o diabo,
desafiar os deuses,
dizer o indizível,
com todas as letras,

o vazio dos místicos,
o vácuo dos cientistas,
o abismo teológico,
o nada dos paspalhões,
o ocão insofismável,

a coisa intangível,
a coisa imponderável,
a coisa incognoscível,
a coisa inefável,
a coisa inominável,
a coisa abominável,
a coisa numinosa,
a coisa secreta,
a coisa misteriosa,
a coisa terrível,
a coisa maldita,
a coisa vergonhosa,


a coisa em si.